Sebastião
Freitas de Souza
Resumo
Este
trabalho
busca compreender como a identidade humana se constitui no jogo
através do diálogo entre o homem e o mundo. A identidade de cada
ser é fundamental para distinguir um indivíduo de outro, um grupo
de outros grupos ou uma civilização de outra. O homem constitui e
modela sua identidade ao tomar contato com o mundo e com a cultura
humana como um todo. A identidade pode ser compreendida no diálogo
da unidade e da diversidade como sendo duas dimensões inerentes,
antagônicas e complementares da espécie humana. A identidade, sendo
uma e múltipla ao mesmo tempo, contempla as diferenças que
caracterizam os povos que habitam o mesmo planeta. A construção de
uma identidade planetária requer uma educação escolar que
reconheça e respeite a diversidade e a pluralidade cultural dos
povos. Cabe à educação escolar despertar uma consciência
antropológica que contemple a identidade do ser humano. É
necessário repensar o papel da escola como fonte principal e a base
de afirmação de identidades num mundo globalizado em que vivemos.
Palavras-chave:
Identidade
Humana, Educação Escolar.
DESENVOLVIMENTO
A
identidade humana é uma característica de cada ser que permite
distinguir um indivíduo de outro, um grupo de outros grupos ou ainda
uma civilização de outra. Refere-se, de modo específico, às
características próprias de cada um, da espécie humana e da
sociedade. Ela marca a cada um de nós, individualmente, e ao mesmo
tempo nos diferencia enquanto espécie humana de outras espécies.
É
um produto de nossa evolução cósmica antropológica e cultural e
se constrói de maneira gradativa por meio das interações sociais.
Segundo
(Morin) sugere que busquemos a compreensão do mundo, do humano e da
humanidade tendo como base instrumentos de um conhecimento complexo,
pois estes têm a pretensão de conceber, inseparavelmente, o diálogo
da unidade e da diversidade humana.
Ao
escrever sobre a identidade humana o autor recorre às mais
diferentes fontes e áreas do conhecimento humano como a: Filosofia,
Literatura, Religião, História, Antropologia, Sociologia,
Psicologia, enfim aos grandes pensadores dessas ciências que abordam
a gênese e a evolução do homem.
O
homem dá início à constituição de sua identidade ao entrar em
contato com o mundo, transforma a natureza e produz diferentes
culturas. Segundo Morin (2002, p.64) “A cultura constitui a herança
social do ser humano, assim como, as culturas alimentam as
identidades individuais e sociais no que elas têm de mais
específico. Por isso, as culturas podem mostrar-se incompreensíveis
ao olhar das outras culturas, incompreensíveis umas para as outras”.
Os
traços mais marcantes da identidade de cada um, portanto, são
produzidos no seio de cada cultura, compondo, dessa forma,
identidades múltiplas e diferenciadas. Na relação com os outros
seres humanos e com as outras culturas nós nos tornamos, ao mesmo
tempo, semelhantes e distintos. Nos traços de cada homem genérico
estão, também, os traços de sua especificidade.
Para
(Morin) nossa identidade biológica e social liga-se à nossa
identidade humana e planetária revelando-se a cultura o capital
humano fundamental.
Biologicamente
o ser humano nasce e se desenvolve como um ser ainda não acabado,
cabendo à cultura a tarefa de moldar esse homem enquanto indivíduo
e enquanto membro de uma espécie e de uma sociedade. As culturas
alimentam e moldam as identidades individuais e sociais naquilo que
elas têm de mais profundo, contraditório e específico.
Para
Morin (2002, p. 165): “a cultura é a emergência maior da
sociedade humana”. O processo de complexidade da evolução
individual e social encontra-se na cultura, sua fonte
gerador-regeneradora. Morin (2002) observa que a nossa identidade
humana é constituída numa relação tríade
indivíduo/espécie/sociedade.
Assim, a
identidade humana é construída mediante a existência desses
componentes os quais são inerentes para a formação global do ser.
Por isso, a formação correta é fundamental ao ser humano.
No geral, se
sabe que o ser humano é algo muito complexo e difícil de entender,
e, para compreendê-lo com mais detalhes apenas é necessário
integrá-lo numa cultura, num contexto histórico, mas
principalmente, inseri-lo nessa trindade humana, onde conforme
(Morin, 2002, p.94). “o indivíduo não é noção primeira nem
última, mas uma noção central da trindade humana”. Mesmo
contendo a multiplicidade o indivíduo permanece como um sujeito
único e, desta forma, continua o autor (p.95) “os outros moram em
nós; nós moramos nos outros [...]”.
Em meio à
dualidade e à multiplicidade terrena somos únicos, e conseguimos
inserir em nós o diferente. Nossa identidade consegue agregar várias
dimensões e características. Sendo assim, a nossa personalidade
revela uma identidade multiforme, ou seja, cada pessoa é singular,
porém, ao mesmo tempo é duplo, plural e diverso.
Buscando uma
explicação mais plausível quanto nossa identidade humana e
cultural Morim nos responde fazendo a seguinte pergunta: Quem somos
nós? E responde esclarecendo que (2004, p.89): “Temos uma natureza
biológica, uma natureza social, uma natureza individual”.
E prossegue: “A
verdadeira complexidade humana só pode ser pensada na simultaneidade
da unidade e da multiplicidade” (p.90). Enfim, somos semelhantes e,
ao mesmo tempo, diferentes uns dos outros, por um processo evolutivo
biossocial.
As identidades
humanas se formam num mundo caracterizado pelas diferenças
culturais, nos mais variados tempos e lugares. As sociedades mais
remotas que se organizavam em duas classes, produzindo as primeiras e
grandes diferenças biológicas de sexo e de idade. As classes
masculina e feminina vão sendo construídas pelas diferentes
práticas das famílias e funções profissionais.
Desta forma
que, segundo Morin (2002, p.164), é desde alguns dos seus traços
fundamentais comuns que as sociedades arcaicas começam a se
diversificar pelo emprego de diferentes línguas, crenças, mitos e
formas de organização familiar e social. A partir de uma origem
comum e local “as sociedades arcaicas multiplicaram-se, todas
parecidas, todas diferentes, e espalharam-se pelo planeta” (p.164).
O que o autor
investiga é a formação e o desenvolvimento das principais
identidades e escreve as nossas marcas identitárias mais
perceptíveis ao longo da história de nossa civilização. Ele
começa escrevendo sobre nossa identidade individual que está
inserida a uma identidade social. A cultura como “patrimônio
organizador” e “emergência maior da sociedade humana” (Morin,
2002, p.165) produz uma identidade social desde as sociedades
arcaicas até as mais recentes.
Indivíduo e
sociedade, desta forma a relação entre eles revela que “o
indivíduo está na sociedade que está o indivíduo” (2002,
p.167). Os indivíduos produzem a sociedade, que por sua vez produz
os indivíduos. Assim, produzimos a sociedade que também nos produz
ao mesmo tempo.
Essa
interligação entre o indivíduo e a sociedade é sempre constante.
Um dos desafios
da educação escolar em nossos dias é desenvolver e despertar no
humano, a possibilidade para a formação da sua identidade,
permitindo uma compreensão da totalidade humana no mundo plural.
Para que isso ocorra, é necessário entender o processo da
constituição da história da humanidade desde os primórdios até a
atual época planetária.
Entre os
principais valores que a escola deve cultivar e promover no mundo
atual é o do respeito à diferença, que pode ser traduzido como
aceitação do pluralismo, da tolerância, da abertura à crítica,
da realização do diálogo com respeito e do debate das ideias.
A educação
escolar precisa sofrer uma grande transformação de tal forma que a
organização transdisciplinar e complexa, capaz de expor
conhecimentos relacionados, onde educadores e alunos aprendam a se
situar e a se compreender no universo em que vivem e atuam para
poderem construir uma identidade individual, da espécie e da
sociedade num mundo com características planetárias. Isso na
verdade, não está sendo fácil porque “nossa educação nos
ensinou a separar, compartimentar, isolar, e não a ligar os
conhecimentos, e, portanto nos faz conceber nossa humanidade de forma
insular, fora do cosmos que nos cerca e da matéria física com que
somos constituídos” (Morin; Kern, 2000, p.48). Ora, concluem os
autores: “A sociedade/comunidade planetária seria a própria
realização da unidade/diversidade humana” (p.127).
Por fim, não
somente a escola, mas, toda a sociedade necessita está alicerçada
nesses princípios para que tenhamos uma população mais aberta ao
diálogo e consciente da diversidade e da unidade que existe na
relação entre o indivíduo e a sociedade em que vive.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
MORIN,
Edgar. O
método V:
a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2002.
_____Sete
saberes necessários à educação do futuro.
São Paulo: Cortez; Brasília, DF: Unesco, 2000.
MORIN,
Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria.
Porto Alegre: Sulina, 2000.
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